quinta-feira, 21 de agosto de 2014

APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA NO NORTE DO BRASIL EM 1936

Pe. Júlio Maria de Lombaerde

Pe. Júlio Maria de Lombaerde (1878 - 1944)
     A primeira edição deste livro estava no prelo quando tive notícia de uma das aparições de Maria Santíssima no norte do Brasil.
     A notícia foi-me transmitida por um sacerdote exemplar, incapaz de ilusão ou de fraude.
     Preferi esperar e deixar para mais tarde a divulgação do fato, que a autoridade eclesiástica, sempre prudente e justamente desconfiada, conservava secreta, para evitar precipitações ou juízos mal fundados.
     Eis que perto de dois anos depois, um amigo enviou-me uma revista alemã, de responsabilidade e de orientação segura: Konnesreuthes Jahrbuch - 1936, onde encontrei a narração resumida, mas completa, destas aparições.
     É desta revista que traduzo o fato, sem mudar nem acrescentar uma vírgula. Achei as aparições revestidas de todos os requisitos de veracidade, cabendo à autoridade eclesiástica pronunciar-se a respeito, o que cedo ou tarde ela fará, seguindo como sempre segue, as normas do tempo e da prudência.
     Sendo aparições e revelações privadas, estas têm apenas um valor humano, e merecem só uma fé humana; porém mesmo assim vale a pena citá-las e meditá-las, porque se a mesma credulidade é um mal, a incredulidade sistemática é um mal maior.
     Haverá qualquer coisa de tão singular numa aparição da Mãe de Deus em terras brasileiras?
     Não somos nós uma nação consagrada à Virgem Imaculada da Aparecida?
     Não somos nós, também, um povo amoroso e dedicado ao culto de nossa Mãe Celeste?
     Se ela se dignou mostrar-se um dia em Lourdes, La Salette, Pontmain, Pellevoisin, na França; em Fátima (Portugal) e ultimamente em Bauraing e Baneaux, na Bélgica, porque ela não se mostraria também no Brasil, dando-nos deste modo, uma prova de seu amor maternal e da sua solicitude para com o povo brasileiro?
     Cada um poderá acreditar ou não acreditar nos fatos aqui narrados. A Igreja nada determinou; há, pois, liberdade de aceitá-los ou de rejeitá-los; como há liberdade de silenciar os fatos ou de publicá-los.
     É apoiado sobre esta liberdade, sem querer adiantar os julgamentos da autoridade eclesiástica, que aqui publico a tradução da Revista de Koeningsreuth:

I. PRIMEIRA APARIÇÃO
     Maria Santíssima apareceu ultimamente num lugarejo do norte, em agosto de 1936. Se omito o nome do lugar, é atendendo aos desejos das autoridades eclesiásticas.
     Era a 6 de agosto de 1936.
     Duas meninas foram mandadas ao campo a fim de colher mamona. Uma chama-se Maria da Luz, a outra Maria da Conceição. Esta é de família pobre e conta 16 anos de idade, filha de um empregado do pai de Maria da Luz.
     Na ocasião das aparições, aquelas redondezas eram perturbadas por bandos de gatunos que roubavam e saqueavam a valer, causando grande inquietação nos habitantes.
     Durante esta saída, Maria da Conceição, perguntou a sua companheira: "Que farias se os ladrões nos encontrassem agora?"
     – Ficaria muito quieta, pois Nossa Senhora nos protegeria, respondeu Maria da Luz.
     Casualmente aquela, olhando para uma montanha próxima, exclamou: "Veja lá uma Senhora". De fato lá se achava uma Senhora que as chamava por acenos, tendo nos braços um belo menino.
     Do lado em que as meninas estavam, era impossível a subida: as rochas e ramos emaranhados impediam a passagem; foi-lhes necessário tomar um desvio, passando perto de sua casa para poderem subir com mais facilidade. Como fossem onze horas da manhã, a mãe de Maria chamou-as para almoçarem. Elas não quiseram ir, contando o que tinham visto e queriam seguir o caminho até aquele lugar.
     A mãe – boa senhora, vice-presidente do Apostolado da Oração – disse muito simplesmente: "É história, venham almoçar." Neste momento, chega o pai, Arthur Teixeira, para almoçar. As meninas sentadas de fronte à casa, falavam sobre aquela senhora tendo a criança nos braços, a qual lhes acenara. A janela estando aberta, a mãe de Maria da Luz ouviu a conversa e narrou-a ao pai desta.
     O sr. Arthur pediu-lhes que contassem o que haviam visto; as meninas lhe disseram tudo, asseverando com tal segurança que ele quis acompanhá-las. Tomando de uma foice, começou a limpar o caminho, quando, quase sem saber como, as meninas já haviam alcançado o cume do monte.
     De lá as meninas lhe gritavam, apontando em direção de uma pedra branca. Com dificuldade ele alcançou o alto, mas nada via do que lhe diziam.
     Entretanto, a mãe não ficou tranquila em casa; trouxe consigo as crianças, em número de cinco ou seis. Destas últimas, ninguém conseguiu ver coisa alguma.
     Apesar das meninas sustentarem que viam diante de si uma senhora com um menino, o pai, para mais segurança, mandou que elas lhe perguntassem o que desejava.
     Perguntaram e a visão respondeu: "Minhas filhas, virão tempos calamitosos para o Brasil! Dizei a todo o povo que se aproximam três grandes castigos, se não fizer muita penitência e oração."
     Restava-lhe muito que dizer ainda, mas ficou para mais tarde. As notícias corriam de boca em boca e os homens se aglomeravam naquele lugar onde fora vista aquela senhora com a criancinha, esperando ver qualquer coisa, mas nada viam.

II. PRIMEIRAS AVERIGUAÇÕES

     Entretanto, o vigário da Paróquia mandou chamar o pai de Maria da Luz, aconselhando-lhe que trouxesse a menina a fim de participar do retiro espiritual das Filhas de Maria, desde o dia 10 a 15 de agosto, preparando-se então para a primeira comunhão. Nesta ocasião o pai poderia estar com o sr. Bispo.
     Mas não foi somente esta a singular aparição da Senhora. Na passagem diária das meninas naquele lugar, ela lhes aparecia.
     As opiniões eram, como sói acontecer em tais casos, sempre divididas; uns acreditavam, outros zombavam.
     As advertências de Nossa Senhora eram reiteiradas: pedia sempre e insistia que era preciso rezar; senão seu Filho castigaria severamente o País.
     Certo dia houve um garoto naquele lugar, que atirou uma pedra em direção à aparição. As meninas disseram que a pedra atingiu a mão de Nossa Senhora e que jorrava muito sangue.
     Como dizíamos, atendendo o pedido do vigário, o pai levou a menina para P., apresentando-a ao sr. Bispo, mas este mandou seu secretário ouvi-la, pois estava muito ocupado.
     Após a audiência, o padre disse: "Vocês estão enganadas." Porém Maria da Luz sustentou a palavra. Terminou-se a conversa entregando o padre umas perguntas, das quais ela devia pedir resposta à Senhora e enviá-las em seguida, na primeira ocasião, por escrito.
     A menina enviou a resposta pedida. Apesar de ela ser um tanto atrasada, não houve a menor inexatidão.
     Eram as seguintes as perguntas formuladas:
     1 – Quem pode mais que Deus?
     2 – Quantas pessoas há em Deus?
     3 – Quais são estas pessoas?
     4 – Em nome de Deus dizei quem sois e que quereis?
     5– Quereis falar com um padre?
     6 – Que significa o sangue que jorra da vossa mão?
     Após dois dias, o padre recebeu da menina as seguintes respostas:
     1 – Ninguém.
     2 – Três.
     3 – Pai, Filho e Espírito Santo.
     4 – Sou a Mãe da graça e venho avisar ao povo que se aproximam três grandes castigos.
     5 – Sim.
     Então a menina perguntou com qual padre, enumerando diversos. A aparição respondeu:
     – Quero falar com o padre que lhe fez estas perguntas.
     6 – Representa o sangue que será derramado no Brasil.
     Estas respostas fizeram o Padre refletir e decidir-se ir àquele lugar para examinar se encontraria provas ou se eram ilusões ou falsidades.

III. APARIÇÃO DE JESUS E MARIA

     O lugar das aparições – "Guarda" – é localizado num alto, circundado de montanhas. Em baixo da montanha, num vale, está a casa dos pais de Maria da Luz, a 500 metros de distância. A subida é muito penosa.
     "Só com muita dificuldade cheguei em cima, escreve o sacerdote. Foi-me necessário tirar os sapatos para poder subir. O calor era insuportável. Numa distância de 40 a 50 metros, divisei o lugar das aparições e as duas meninas com o pai, os quais já estavam em cima; elas me diziam que a Senhora olhava para mim de cima, enquanto eu subia.
     – Que está fazendo a aparição? – perguntei.
     – 'Está sorrindo', disseram elas.
     Eu olhei primeiro, examinando o que havia por ali: tudo era pedra e entulho; na nossa frente estava um formidável abismo; no lugar das aparições notava-se um como número em forma de quatro (4); ao lado esquerdo outros números como um (1-1); no meio, uma linha branca, um pouco mais alta, que se podia alcançar só por meio de uma escada.
    – 'Lá está a aparição', diziam as meninas; mas eu nada via. Sob a pedra que se achava diante de mim, numa abertura, corria um pouco d'água.
    Perguntei ao pai de Maria da Luz se aquela água sempre existiu ali. Ele me disse: 'não; mas como muitos não acreditassem nas aparições, as meninas pediram um sinal; desde então começou a brotar água'.
     Fiquei em cima com Maria da Luz e pedi que Maria da Conceição, com o sr. Arthur, se retirasse um pouco abaixo, na montanha. Assim eles dois nos podiam ver, mas não ouvir. Então, eu disse à Maria da Luz: – 'Dize-me agora a verdade e não prégues mentiras, pois do contrário serás infeliz para toda a tua vida'.
     Eu queria fazê-la confessar que nada via. Ela, porém, permaneceu inabalável. Quando eu perguntei o que a aparição estava fazendo, disse-me ela, olhando em direção do lugar:
     – 'Ela olha para cá e está sorrindo'.
     – 'Agora dize-me: como está Ela?'
     Maria da Luz olha e diz:
     – 'Vejo uma bela Senhora, cujo vestido é creme, quase como vosso capote. O manto é azul celeste, pendendo do pescoço, onde está seguro por uma fivela, com pedras preciosas. Num braço está a criança'.
     – 'Em que braço? No direito ou no esquerdo?'
     A menina não sabia distinguir o braço direito do esquerdo. Fez uma vira-volta com o corpo e mostrou-me o braço esquerdo.
     – 'Ela, como o menino, traz uma coroa de ouro na cabeça', disse-me a jovem.
     – 'E a outra mão?' - perguntei.
    Fez então uma nova vira-volta (apontando-me) mostrando-me o braço direito estendido para baixo.
     – 'A criancinha enlaça o pescoço da mãe com o bracinho direito", disse ela, dando uma vira-volta e apontando o braço. A senhora tem na cinta uma fita da mesma fazenda e da mesma cor que a do vestido. Vejo somente um dos pés.
     – 'Qual deles?' - perguntei.
     Ela mostrou o pé direito, fazendo outra vira-volta.
     – 'Atrás da Senhora vê-se um bonito oratório com duas torres fechadas. O oratório, que tem a forma de uma casinha, tem pedras preciosas nas suas torres'."

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