sexta-feira, 8 de agosto de 2014

PADRE GABRIELE AMORTH - SOBRE O ESPIRITISMO

Outra ramificação do ocultismo é o espiritismo ou necromancia.
Falar de espiritismo significa enfrentar um tema muito difícil, que coloca em evidência um mal atualmente em grande expansão, especialmente entre os jovens: encontramos-nos frente a um mal que, mais uma vez, é fruto da falta de fé; é um modo de buscar a verdade por caminhos desviados, bem distantes do recurso ao único Mestre.
Trata-se, também, de um tema que tem muitos aspectos envolvidos, muitas conseqüências; por isso, nosso discurso, embora limitado ao que nos parece de maior utilidade prática, implicará também a algumas divagações sugeridas enquanto formos expondo.
        

O QUE É O ESPIRITISMO?

           
É evocar os falecidos ou os espíritos, para interrogá-los.
Evocar, ou seja, apelar para a sua presença, quase sempre em formas não visíveis e não sensíveis, mas sempre com o objetivo de lhe requerer uma resposta. Evocar os falecidos, ou seja, as almas dos mortos é um conceito claro. O mesmo não podemos dizer dos espíritos.
Conhecemos os espíritos puros, os anjos, criados bons por Deus; também sabemos que uma parte deles se revoltou contra Deus, transformando-se em demônios. Nada mais sabemos. Os espíritas falam também de um espírito-guia, de entidades não muito bem identificadas, ou citam outros nomes que cheiram a filmes de terror; ou seja, trata-se de invenções humanas, totalmente inconsistentes.

         Digamos desde já que o espiritismo existe desde que o homem existe. Em todos os povos, mesmo nos mais antigos, encontramos este desejo, esta tentativa de falar com os mortos, utilizando métodos e pessoas de acordo com a mentalidade sócio-cultural da época e do povo.
E gostaria de ressaltar um aspecto positivo destas tentativas, importante e, em parte, justificado pela humanidade privada da luz da revelação: pode se notar uma convicção inata da imortalidade da alma, muito antes dos grandes filósofos terem fornecido demonstrações racionais.

Qual o motivo desta ânsia de querer falar com os falecidos? Quais os motivos principais? Parece-me que podemos resumi-los da seguinte maneira.
         1- A curiosidade ou o desejo de conhecer. A curiosidade de ver se a tentativa resulta e que coisa se aprende, o que é que é dito, ou melhor, respondido. Ou, então, o desejo de saber se existe realmente o além, como é que é feito, como se vive nele.
2- Um segundo motivo pode ser o afeto para com a pessoa falecida, de quem a pessoa não se quer separar; o desejo de falar com ela, de saber como está, de senti-la viva e próxima.
3- Um outro motivo muito forte é o interesse em saber informações sobre acontecimentos futuros, supondo que os falecidos os conhecem; ou, então, o interesse em eventuais conselhos que possam nos dar momentos de dúvida e de decisão.
4- Acrescento um outro motivo, sobretudo no caso da invocação dos espíritos: o desejo de proteção da própria pessoa, ou o desejo de obter poderes particulares que os dominem ou que possam ser utilizados em proveito próprio.

        
Parece-me que, para quem tem fé e recebeu o grande dom de conhecer as verdades reveladas, são bastante claros os motivos pelos quais a Bíblia, na sua totalidade, Antigo e Novo Testamentos, e a autoridade da Igreja, proíbem todas as formas do espiritismo.
Quem tem fé procura e encontra respostas às suas dúvidas nas palavras divinas. Deus falou. Querer procurar as verdades no mundo terreno, não se dirigindo a Deus, mas seguindo os desvios dos expedientes humanos, é uma culpa grave contra o primeiro mandamento, é mergulhar na superstição, é desviar-se da verdade para aderir ao erro.
Quem é que responde nas sessões de espiritismo? Podem ser truques, sugestões, fenômenos paranormais, intervenções diabólicas... É por isso que as condenações da Bíblia são tão fortes: “Quem invocar os mortos é abominável para Deus” (cf. Dt 18,12). E igualmente claras são as condenações eclesiásticas.

Limito-me a citar algumas: “Não é permitido participar, com médium ou sem médium, servindo-se ou não do hipnotismo, em sessões ou manifestações de espiritismo, mesmo que tenham aparência honesta e piedosa, quer se interroguem as almas ou os espíritos, quer se escutem as respostas; quer mesmo se limitem a observar” (Santo Ofício, 24 de abril de 1917).
É uma resposta particularmente completa e adequada ao nosso tempo. Por exemplo, quando diz com médium ou sem médium, parece antecipar os nossos dias, em que as sessões de espiritismo são, sobretudo, feitas mediante o jogo do copo ou da moeda, com o gravador, com a televisão, com o telefone, com o computador e, sobretudo, com a psicografia. E quando afirma “mesmo que tenham aparência honesta e piedosa”, parece prever certas formas e certos movimentos, tipo o Movimento da Esperança, a que faremos referência mais adiante.
Agora, queremos também recordar, brevemente, a parte positiva, ou seja, tudo aquilo que a revelação nos diz a respeito dos mortos. Antes de mais nada, sabemos que as almas dos mortos vão de imediatoou para o Paraíso, ou para o Purgatório, ou para o Inferno.

É verdade também afirmada por dois concílios ecumênicos: o de Lião e o de Florença. Podem surgir novos aprofundamentos, mas o pensamento expressado pela Bíblia é claro e abundante de conseqüência práticas. Cito o principal. Só temos esta vida como período de prova: não há outra solução. O Evangelho tem expressões que não deixam dúvidas.
Por isso, a fábula de reencarnação, em que acreditam as religiões orientais e, atualmente, pelo menos um quarto dos italianos, é inadmissível e em clara contradição com afé da ressurreiçãoque está na base do cristianismo. Os descrentes podem ter motivos de justificação e, talvez, a reencarnação lhes seja sugerida pela intuição de que a alma é imortal.Mas é um erro imperdoável a quem recebeu a revelação e acredita na ressurreição da carne, merecida pela ressurreição de Cristo.
A fé diz-nos ainda mais qualquer coisa sobre a atividade das almas dos falecidos. Pensemos no grande dogma da comunhão dos santos. Diz-nos que as almas do Paraíso podem acolher as nossas orações e interceder por nós; as almas do purgatório podem receber os nossos sufrágios e obter-nos graça. Tudo isso acontece, não por vida direta, mas através de Deus.

Deste modo, podemos pensar que, mediante Deus, os nossos queridos falecidos acompanham as nossas atividades. Notemos um pequeno detalhe, na parábola do rico glutão:mesmo vendo Lázaro no seio de Abraão (que representa Deus), ele nunca se dirige diretamente a Lázaro, mas sempre a Abraão: “Manda Lázaro...” Porque entre nós e os falecidos existe uma separação insuperável; vivem numa outra dimensão; só por meio de Deus pode existir relação.
Pode aparecer que pouco foi dito a respeito da atividade das almas dos falecidos. E nós, exorcistas, encontramo-nos freqüentemente diante de problemas que gostaríamos de aprofundar – dedicaremos um capítulo a isso.

Creio que, quando os teólogos voltarem a amar mais a teologia do que a sociologia, poderemos enriquecer o nosso patrimônio de conhecimentos contidos na Bíblia explícita e implicitamente. Mas é sempre na revelação que devemos nos basear. Quem quiser seguir os desvios do espiritismo afasta-se de Deus e da verdade.
Alguém pode torcer o nariz e pensar que tudo o que se disse é insignificante e que a fonte da revelação não é suficiente. Recordemos, então, que nos encontramos no campo do sobrenatural, em que a ciência humana não consegue penetrar, tal como não penetrarão jamais as demonstrações científicas: estas valem somente para o homem viver sobre esta terra fará sempre novas descobertas.

Mas as verdades sobrenaturais, aquelas que dizem respeito ao mundo invisível, nunca serão submetidas à demonstração científica ou aos aprofundamentos científicos: a imortalidade da alma, a existência dos anjos e dos demônios, a existência do Paraíso-Purgatório-Inferno, a própria existência de Deus. Neste campo, apenas a revelação nos dá a certeza, e a fé é um dom do Espírito Santo, não é fruto do esforço humano.

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