segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A GUERRA DOS CRISTEROS - PARTE 1 - ORIGENS DA GUERRA

CRISTIADA - parte 1 - Origens da Guerra Cristera

Quando falamos em heróis da Fé, mártires ou martírio, automaticamente pensamos nas perseguições perpetradas por imperadores romanos ou imaginamos algum episódio que tenha ocorrido muitos e muitos séculos atrás. No entanto, em tempos recentes diversas perseguições à nossa Fé Católica aconteceram e continuam a acontecer e, dentre elas, uma merece especial destaque: a Guerra Cristera, também conhecida como CRISTIADA. Este importante episódio de nossa história, embora recente, infelizmente é desconhecido por grande parte da geração atual.
 
Este blog, através desta iniciativa, tentará contribuir para sua divulgação principalmente entre os falantes de português onde há grande escassez de informações a respeito. A seguir, iniciaremos uma série de postagens sobre a Guerra Cristera. Esperamos com isso colaborar para o fortalecimento da fé daqueles que conhecerem um pouco mais deste período que produziu tantos santos, modelos de fidelidade à Cristo, principalmente na época em que vivemos onde os direitos de Deus são cada vez mais atacados e vilipendiados. ¡VIVA CRISTO REY!


AS PERSEGUIÇÕES RELIGIOSAS NO MÉXICO DO SÉCULO XIX


Fonte:ECWiki                                 Tradução: Morro por Cristo

É conveniente que iniciemos nossa crônica pelo começo: a perseguição liberal que ocasionou a guerra cristera - Cristiada - no século XX não era senão a continuação da que se iniciou, já em larga escala no século XIX. Em 1810, com o grito do Padre Miguel Hidalgo: «Viva Fernando VII e morte ao mal governo!», inicia-se o processo que culminaria com a independência do México. Em 1821 o Plano de Iguala define a independência completa do México como monarquia constitucional que, ao ser oferecida sem sucesso a Fernando VII, acaba ficando à designação das Cortes mexicanas. Após o breve governo do imperador Agustín de Itúrbide (1821-24), rejeitado pela maçonaria e fusilado em Padilla, é proclamada a República (1824), que caminha vacilante até metade do século e que perde para os Estados Unidos a metade do território mexicano (1848).
Benito Juárez
Pouco depois da independência, já en 1855, desencadeou-se a revolução liberal com toda sua virulência anti-cristã. Foi então quando sobiu ao poder Benito Juárez (1855-72), índio zapoteca de Oaxaca, que aos 11 anos, auxiliado pelo leigo carmelita Salanueva, aprendeu o idioma espanhol, a ler e escrever, o que lhe permitiu ingressar no Seminário. Posteriormente, já como advogado e político, impõe, obrigado pela logia* norte-americana de Nova Orleans, a Constituição de 1857, de orientação liberal,  e as Leis de Reforma de 1859, ambas abertamente hostís à Igreja.
Por meio delas, contra todo direito natural, se estabelecia a nacionalização dos bens eclesiásticos, a supressão das órdens religiosas, a secularização de cemitérios, hospitais e centros beneficientes, etc. Seu governo ainda apoiou uma "igreja mexicana" numa tentativa precária de criar, em torno de um pobre sacerdote, uma igreja cismática.
Todas estas arbitrariedades provocaram um levantamento popular católico, semelhante, como assinala Jean Dumont, ao que haveria de se produzir no nosso século. Com efeito, «a Cristiada [1926-1931] teve um precedente bastante parecido nos anos 1858-1861. A catolicidade mexicana de então também manteve uma luta de três anos contra os Sem-Deus da época, laicistas da Reforma, também jacobinos, que haviam imposto a liberdade para todos os cultos, exceto o culto católico, submetido ao controle restritivo do Estado, com os bens da Igreja postos à venda, a proibição dos votos religiosos, a supressão da Compania de Jesus e portanto, de seus colégios, o juramento de todos os funcionários do Estado a favor dessas medidas, além da deportação e a prisão dos bispos e sacerdotes que protestassem. Pio IX condenou estas medidas, assim como Pio XI expressou sua admiração pelos cristeros».
Naquela guerra civil, na qual houve «deportação e condenação a morte de sacerdotes, deportação e encarceramento de bispos e de outros religiosos, repressão sangrenta das manifestações de protesto, particularmente numerosas nos estados de Jalisco, Michoacán, Puebla, Tlaxcala» (Hora de Deus no Novo Mundo 246), o governo liberal prevaleceu graças à ajuda dos Estados Unidos.
A Reforma liberal de Juárez não se caracterizou somente por seu sectarismo anti-religioso, mas também porque junto à desamortização dos bens da Igreja, eliminou as hortas comunitárias dos indígenas. Estas medidas não evitaram ao Estado sofrer um grave colapso financeiro, porém enriqueceram a classe privilegiada, aumentando o predomínio do latifúndio em larga escala. Com tudo isso, segundo o historiador mexicano Vasconcelos, também filósofo e político, «Juárez e sua Reforma estão condenados por nossa historia», tendo ele passado, como outros, «à categoria de agentes do Imperialismo anglo-saxão» (Breve hª 11).
Sobre este último bastaria recordar as incríveis ofertas, por vezes vergonhosas, do governo de Juárez aos Estados Unidos nos tratados Mac Lane-Ocampo e Corwin-Doblado ou nos convênios com os norte-americanos administrados pelo agente juarista José María Carvajal...
O período de Juárez viu-se interrompido por um breve período em que, por imposição de Napoleão III, ocupou o poder Maximiliano de Austria (1864-67), fusilado em Querétaro pouco tempo depois. Também nestes anos a Igreja ficou sujeita a leis vexatórias e os maçons «ofereceram ao Imperador a presidência do Supremo Conselho das logias, que ele recusou, aceitando porém o título de protetor da Ordem, além de nomear a dois de seus indivíduos como representantes, ao que imediatamente receberam o grau 33» (Acevedo, Hª de México 292).
Juárez foi sucedido no poder por Sebastián Lerdo de Tejada (1872-76). Este, que havia estudado no Seminário de Puebla, intensificou a perseguição religiosa, chegando a expulsar até «as Irmãs da Caridade - a quem até mesmo Juárez havia respeitado-, não obstante que das 410 que havia, 355 eram mexicanas, e que atendiam a cerca de 15 mil pessoas em seus hospitais, asilos e escolas. Por outro lado, favoreceu oficialmente a difusão do protestantismo, com apoio norte-americano. No ano de 1873 foi proibido que houvesse fora dos templos qualquer manifestação ou ato religioso» (Alvear Acevedo 310). Tudo isso provocou a guerra chamada de "los Religioneros" (1873-1876), um levantamento armado católico, precedente também ao dos cristeros (Meyer II,31-43).
O longo período de Juárez no poder ocasionou entre os mesmos liberais uma oposição cada vez mais forte. O general Porfirio Díaz - que era, como Juárez, de Oaxaca e antigo seminarista - propugnou como lei suprema a não-reeleição do Presidente da República (Plano de la Noria 1871; Plano de Tuxtepec 1876), desencadeou-se uma revolução que o levou ao governo do México mantendo-o durante quase 30 anos: foi reeleito oito vezes, numa sequência de fraudes e irregularidades nas eleições, entre 1877 e 1910.
Neste longo período exerceu uma ditadura de ordem e progresso, visivelmente favorável para os investidores extrangeiros - petróleo, redes ferroviárias -, principalmente norte-mericanos, e para as camadas sociais mais privilegiadas. Também em seu governo aumentou o latifundismo, e se mantiveram injustiças sociais muito graves (+Kenneth Turner, México bárbaro). Apesar de tudo, o liberalismo do Porfiriato foi mais tolerante com a Igreja. Ainda que tenha deixado vigentes as leis persecutórias da Reforma, normalmente não as aplicava; mas manteve em seu governo, especialmente no ensino fundamental e universitário, o espírito laicista anti-religioso.

CONTINUA...

Um comentário:

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